Xucuru Kariri

 " O que nos singulariza como cultura é o patrimônio de nomes das coisas da natureza que nos circunda, as dezenas de plantas domesticadas pelos índios que cultivamos em nossas roças e as milhares de árvores frutíferas e de outros usos que eles nos ensinaram a aproveitar. Assim é que continuamos sendo índios nos corpos que temos e na cultura que nos ilumina e conduz"

                                                                                                        Darcy Ribeiro-Diários índios

 O PROJETO CULTURAL KARIRIOCA foi criado no ano de 2004. Sarapó Xucuru Kariri junto com sua esposa e professora Aparecida Gentil,  após muito estudo e reflexão acerca da necessidade de apresentar algo de interessante aos nossos educandos, decidem levar até as escolas do Rio de Janeiro um pouco da cultura tradicional Xucuru Kariri e também de alguns povos do Brasil.
O projeto tem como objetivo principal tornar a cultura indígena mais próxima das pessoas que vivem na cidade. Nesses encontros, sempre rodeado de perguntas, ocorre uma interessante troca de conhecimento capaz de gerar reflexão sobre tudo que já foi visto em livros e vídeos relacionados aos povos indígenas. Na fala de Sarapó  existe uma linda interação abrindo espaço para questionamentos importantes como: preconceito racial e preservação ambiental.

                                                                                                                                       

Resistência alagoana

 Sou Sarapó Wakonã, do povo Xucuru Kariri de Palmeira dos Índios - AL. Pertenço a aldeia Mata da Cafurna, local sagrado dos nossos antepassados, onde resta a única reserva de floreta na região, exatamente por nossa presença naquele lugar. Tenho origem de outras etnias como: Pankararú e Xucuru do estado de Pernambuco, mas minha cultura é Xucuru Kariri. Passei minha infância dividida entre aldeia e cidade, se não fosse assim não estaria aqui hoje. Esse interesse por novos conhecimentos me incentivou a estudar e tentar mudar muitas atitudes equivocadas de algumas pessoas da cidade. Eu ainda acredito que muitos amam nossa cultura e querem saber mais sobre nós.  Daí ,meu empenho em trazer sempre coisas interessantes para que o Projeto Karirioca esteja sempre atualizado com o momento em que vivemos. Vale ressaltar que a minha querida tribo Xucuru Kariri pede socorro em silêncio sob as serras de Palmeira dos Índios. 

                                                                                                                                                      " Sarapó wakonã "

Karirioca

 Com uma programação variada, que aborda vários temas relacionados a cultura indígena ,desde danças até a história tradicional, o Projeto Cultural Cara de Índio enfatiza a importância da preservação da floresta, pois acredita que todos seus elementos são necessários para uma vida melhor , não só para o índio mas também para todos os povos. 

 O apoio das escolas aos eventos indígenas é muito importante, pois abre a mente dos educandos no que diz respeito ao estudo extraclasse. Sabemos que nem tudo se aprende dentro da sala de aula. O contato com outras culturas enriquece o aprendizado de qualquer criança, tornando esse momento algo inesquecível que levará para vida inteira. 

 O modo de vida do povo da cidade é muito agitado, o olhar para as coisas da natureza muitas vezes é vazio e indiferente. Nos centros urbanos, os rios são tratados como depósito de lixo, milhares de espécies de peixes sumiram de suas águas. Não faz sentido auto proclamar- se " civilizado " e fazer algo de tão ruim para si mesmo, vivem num coletivismo individualista, e até mesmo procurar por Deus parece algo comercial, o grande espírito " Deus " não precisa de nada além da FÉ.

A direção e coordenação, são muito importantes pra nós do Karirioca, são elas que nos recebem com muito carinho e respeito, valorizam nossa cultura e fazem de tudo para fazermos um ótimo evento.

Por isso quero agradecer à todos eles , que nesses 15 anos abraçaram nosso trabalho e levaram um pouco da nossa História para a suas escolas.


 O vocabulário direcionado aos alunos é dividido por faixa etária, dando ênfase ao cotidiano tribal e ao respeito com o meio ambiente. Isso se aprende na escola e em casa, mas o índio tem a responsabilidade de falar mais ainda, porque considera a natureza como sua própria mãe.


 A interação da palestra é feita de forma simples e dinâmica, buscando sempre a participação ativa do público, através de perguntas e curiosidades sobre nossa cultura. A vivência nesses encontros é levada por toda a vida dos educandos, pois eles descobrem que não somos personagens e sim pessoas como eles, seres humanos.

                                        RESISTÊNCIA

   A História indígena no Brasil é contada na versão do invasor.  Muitos fatos que envolvem o "descobrimento" de nosso país carrega uma simbologia romântica de algo que foi extremamente trágico para o povo que já habitava essa terra. O que é ensinado em sala de aula está longe da verdade que foi o massacre de milhões de seres humanos que foram dizimados em nome de uma colonização europeia que só queria explorar de maneira impiedosa tanta riqueza que aqui encontrou. Nos livros didáticos, encontramos uma história com conteúdos que mascaram a grande covardia que fizeram com cada povo que aqui vivia e que agora, infelizmente, sobrevive lutando por uma terra que sempre foi sua, mas que lhe foi arrancada da pior maneira possível. Precisamos desmistificar a imagem negativa que parte da sociedade carrega sobre os povos indígenas, pois essa era nossa terra. Já estavamos aqui quando os portugueses invadiram nossa casa, mataram mulheres, crianças, idosos e assim foram destruindo nossa gente, não respeitaram nosso modo de vida e muito menos nossa floresta.

Nossos antepassados sempre lutaram por seus direitos, por suas terras e principalmente por sua liberdade, passamos mais de quinhentos anos escondidos sem mostrar nossa identidade e nossos costumes, estamos aqui para mostrar à sociedade que resistimos, não somos personagens, somos seres humanos iguais aos outros, somos nativos brasileiros, somos fortes, somos capazes, somos eternos, somos indígenas.

Atualmente, os povos indígenas do Brasil ainda não encontraram uma forma ideal para lutar por seus direitos, nosso país é muito grande e isso dificulta a aproximação das etnias, existem pequenos grupos e associações regionais que sofrem influência de igrejas e partidos políticos. É muito triste ver jovens índios saindo de sua aldeia para se submeter ao descaso de ficar pelas ruas das grandes cidades, vendendo artesanato e brigando por causas que não são suas. O pior é que tem gente da cidade que se passa por índio para adquirir vantagens particulares do governo, também organizações que usam de toda maneira a nossa cultura como comércio injusto e abusivo, enganando índios trabalhadores com promessas de apoio e honestidade, mas uma grande parcela de nós índios sabe da verdade por trás disso tudo. Hoje , felizmente alguns indígenas não usam só o maracá,  também usamos a caneta e o papel. Pouco mais de quinhentos anos depois, estamos acordando para o mundo, nos unindo cada vez mais, estudando e mostrando nossa CARA DE ÍNDIO.

                                                                                                                                          "Sarapó Wakonã"

             ORÉ NHE' ENG 

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